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#feliz na sua pele

Feliz na sua própria pele com ana mesquita

1. A Ana nasceu e viveu a sua infância em Moçambique. De que forma este local contribuiu para a sua forma de encarar a vida?

Privilégio meu ter nascido em África, que contribuiu para formar um modo de ser expansivo. A arte que crio tem o tempero colorido dos trópicos: a cor que encontramos no artesanato, nos estampados têxteis, na exuberância da natureza, na dolência do Índico.

Cultivo a ligação espiritual com os meus ancestrais. Somos a soma de todos os que nos precederam. Vivo numa constante nostalgia em relação a Moçambique. Faço dessa saudade lenha que motiva o meu músculo criativo.

Regresso, sempre que posso, à minha terra ocre.  Mato saudades dos amigos e das acácias. Mergulho naquele mar e renasço. Falta-me voltar a Mocuba, a novecentos quilómetros a norte de Maputo, província da Zambézia, a terra onde caiu o meu umbigo.

 

2. Quais os momentos na sua vida que mais a marcaram?

O nascimento do filho Vicente, há 21 anos, fez de mim uma leoa. Muitas mães sentirão o mesmo. A maternidade é um ato telúrico, uma espécie de renascimento.

São dois nascimentos simultâneos que ao longo dos anos crescem, ensinando-se e descobrindo o mundo num constante diálogo.

O segundo momento marcante terá sido o dia em que a minha arte começou a emocionar quem a admira e adquire.

Foi como tornar a nascer, após vinte anos de uma produtiva atividade jornalística, regressei à minha essência: ao desenho – formei-me em Design – e voltei à estaca zero de uma nova vida profissional, apesar do reconhecimento público que já então tinha.

Foi há dez anos. Fi-lo sem receios. Sabia que iria respirar por ali, continuando a traduzir as questões que me apaixonam, refletindo o mundo em que vivo através da expressão plástica. Realizei inúmeros projetos desde então. Todos contribuíram, enormemente, para uma felicidade e uma agitação criativa que há-de sempre alimentar os meus dias.

 

3. Formou-se em Design, mas esteve muito tempo afastada da atividade para se dedicar à moda e ao jornalismo. Como ressurgiu a paixão pela arte?

Durante os anos de transição da atividade jornalística para a arte, parti-me por diversas vezes, no ombro, pulso, perna e tornozelo direito. Num dos casos, o ombro, com intervenção cirúrgica. Quanto tive a fratura no pulso supliquei para que não me operassem, e paguei, em dor, o preço da minha audácia. Tudo aconteceu do lado direito do corpo: o lado da racionalidade – dizem. E dizem também que é um sinal para darmos livre curso à intuição. Há algo de Frida Kahlo nesta minha peripécia óssea…E talvez, não por acaso, criei uma exposição onde juntei a pintora mexicana à nossa Carmem Miranda: ambas se encontram entre os espíritos femininos mais ousados da primeira metade do século XX.

Acredito que a vida é quântica. Nesse ressurgimento da veia artística deixei-me guiar por uma voz interior que talvez tenha conseguido calar durante muitos anos.

Não sei… Sei, no entanto, que sempre fui feliz. Só sei viver intensamente.

 

4. É artista plástica. Faz, agora, aquilo que sempre sonhou?

Dez anos após este regresso à minha essência, espero estar apenas no início daquilo que é já uma realidade: viver o tal sonho que desconhecia que afinal sonhava. A arte exige uma entrega a mil por cento, um constante regar de novas sementes.

Acabei de criar os cenários para cinco concertos que decorreram no Capitólio, em Lisboa, e irão em Setembro à Casa da Música.

Preparo-me para lançar o projeto de uma instalação que venho criando há três anos. E inicio em breve a pintura de mais um mural.

 

5. O que é, para si, sentir-se feliz na sua própria pele? É feliz na sua pele? Quem ou o que contribui para esta felicidade?

Quem mais contribui para minha felicidade sou eu: a cada escolha que faço, em cada partilha, em cada conquista.

Ser mulher, apesar das muitas lutas que continuaremos a travar – aqui e por esse mundo fora – é em si uma pequena glória. A feminilidade é um bem, uma luz, a alegria e a dança mais sinuosa do universo.

 

6. Que conselho daria a uma mulher madura?

Trate bem o planeta que é a nossa casa. E proteja-se, use filtro solar. Alimente-se bem. Sem carne vermelha, de preferência. Coma proteína vegetal. Está provado que os gladiadores, em Roma, eram vegetarianos. Hidrate-se com água e use óleo de coco nas receitas. Use cremes que contribuam para tornar a pele mais elástica. Tenha um bom dermatologista. Ande muito a pé, sempre que possa. Pratique yoga: acalma-lhe a mente e alonga-lhe os músculos. Nade. Viemos da água.

Evite postiços: unhas, cabelos, etc. Isso apenas tornará mais duro o caminho para o envelhecimento.

Aborreça-se o menos possível. Todas as tempestades são passageiras. Leia, dance muito, solte-se de preconceitos. Visite galerias e museus. A arte limpa. O que teria sido de nós durante esta pandemia, sem a arte? Foi a arte – os livros e filmes, as séries, os humoristas, a música, os hobbies e os nossos dons, que nos salvaram do enfado e da neura deste ano e meio de pandemia mundial.

Por isso consuma arte com regularidade. Verá que os cérebros divergentes, estimulados, têm maiores probabilidades de sobreviver num mundo que se adivinha cada vez mais automatizado.

Não deixe para amanhã tudo o que possa fazer já. Seja um incentivador de pessoas. O mundo tem demasiados críticos. Não queime o seu precioso fluido vital. Trabalhe a sua paciência. Cultive amizades e acalente sonhos.

Ria-se, sem medo, de tudo o que possa. Sobretudo de si.

 

Ana Mesquita, 
Artista Plástica

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