Ano Novo, Empreendedoras Novas!

Há quem diga que, depois de uma determinada idade, trabalhar ou desenvolver projetos são atividades que não fazem parte da rotina. O projeto A Avó Veio Trabalhar prova justamente o contrário, ou seja, que nunca é tarde para começarmos algo novo e enfrentarmos novos desafios.

1. Como surgiu a ideia do projeto A Avó Veio Trabalhar? Qual a missão e objetivos desta iniciativa?

A Avó Veio Trabalhar é uma hub criativa intergeracional. Um espaço de aprendizagem, partilha e empowerment que usa os lavores domésticos e o design para aumentar o poder de intervenção dos seniores na sociedade. A nossa missão é descobrir talentos e mostrar que a idade é algo que deve ser celebrado e desejado. Muitas vezes achamos que, o que A Avó Veio Trabalhar faz é: retirar da equação a idade, permitindo ao nosso grupo de Avós viver, conviver e trabalhar sem pensarem na idade que têm, sendo sempre desafiadas para o seu próprio crescimento pessoal e para o crescimento em comunidade. A ideia surgiu porque sentimos (Susana António e Angelo Campota) que era necessário uma iniciativa que mostrasse o envelhecimento como algo positivo e não como uma maldição.
Em 2014, quando iniciámos, não existiam muitos projetos que trabalhassem os “modelos de envelhecimento” de forma aspiracional, bela, divertida e aventureira.

2. Quais são as principais atividades que este grupo de avós pode fazer?

As Avós participam em diversas atividades, desde residências criativas dentro e fora de Lisboa, ou até a nível internacional, em Festivais artísticos ou Design Weeks. Por outro lado, através do nosso mote “Old is the new young” e “As Avós são especialistas em otimismo“, são chamadas para sessões fotográficas, campanhas, filmagens e até videoclips. Ainda na nossa Hub criativa, o dia-a-dia é muito diversificado. Desde processos criativos com artistas convidados, a encomendas de trabalho manual da parte de marcas, empresas e clientes, às nossas próprias coleções. Sempre em processos de aprendizagem versus ensinamentos, em que a equipa e as Avós aprendem e ensinam. Por último, as Avós também são mestres e ensinam as gerações mais novas e até turistas de todo o mundo a bordar, tricotar, crochetar e  “a viver a vida com ganas”, aproveitando todos os bocadinhos!

3. Se alguma avó que nos esteja a ler quiser participar, o que é que tem de fazer?

Apenas contactar-nos e visitar o nosso espaço, situado no Largo Mendonça e Costa 10, 1900-349 Lisboa. Para mais informações: https://www.fermenta.org/pt/. Também estamos nas redes sociais: @aavoveiotrabalhar (instagram) e https://www.facebook.com/AAvoVeioTrabalhar/ (facebook).
A participação é gratuita, e estamos abertos de 2a a 6a todas as tardes. Depois, essa Avó passa a fazer parte da nossa grande família e abraçará os projetos com os quais tiver afinidade ou curiosidade, aprendendo coisas novas, desafiando-se e partilhando também os seus conhecimentos.

4. Quais são os principais desafios que enfrentam? Sentem que as pessoas mais maduras estão a mudar a sua própria mentalidade?

Os principais desafios têm a ver com o facto de ser necessário construir uma autoimagem positiva, apesar de muitas vezes a sociedade enfatizar o lado negativo do envelhecimento e da reforma. Quando as pessoas se reformam, perdem parte da sua identidade, passam a ser “ex… qualquer coisa”. É nessa altura que é preciso descobrir novos talentos e celebrar as capacidades de cada um. Atualmente, pensa-se que estar ocupado já é suficiente, mas, para nós, não. É muito importante a valorização que eles recebem pelo que fazem, ensinam ou são. Os objetivos, rotinas e intenções são a pedra basilar da Avó Veio Trabalhar. E é no reconhecimento que a comunidade faz dos mais velhos que eles podem florescer e existir com um sentido de propósito que vai para além deles próprios. Ainda bem que hoje em dia já existem muitas iniciativas que contribuem para a quebra deste estigma, e cada vez mais nos cruzamos com seniores que nos inspiram e até nos fazem querer ser como eles. Já se ouve da boca das gerações mais novas frases como: “Quando for velha, quero ser assim!”

5. Na vossa opinião, qual a grande diferença entre ser avó hoje ou há 50 anos atrás? E daqui a 50 anos, como veem o futuro de quem tem hoje 40 a 50 quando chegarem à 3º idade?

O tempo muda e, com ele, mudam-se os hábitos e os costumes. Se há 50 anos as Avós viviam para a família, para a proteção e suporte dos seus, hoje em dia tentam acompanhar, fazer parte e integrar o mundo atual, quer seja pelos novos estilos de vida, pelas redes sociais, viagens e experiências diferenciadoras. Acreditamos que a evolução da sociedade ditará os novos comportamentos dos mais velhos, quer seja daqui a 50 ou mais anos. Também acreditamos que o papel de Avó continuará a ser importante, sempre aliado ao papel de pais.

6. Sabemos que o coletivo Fermenta tem uma voz muito ativa em várias causas sociais. Gostaríamos que nos falassem mais sobre uma outra iniciativa vossa intitulada “Adote uma Avó”?

É uma campanha de crowdfunding online para que o projeto A Avó Veio Trabalhar continue. Somos sustentáveis através dos nossos produtos e serviços, que pessoas individuais e empresas públicas ou privadas podem adquirir. Mas, com a pandemia, perdemos fluxo de financiamento e, por isso, necessitamos que “adotem” ou “apadrinhem” as nossas Avós, para que elas possam continuar a participar nas atividades e possamos manter a Hub criativa aberta.

7. Têm intenção de estender este projeto a outras cidades?

Sim. Já o fazemos com as nossas residências criativas pelo país. E temos um núcleo de Avós  nos Açores. Em breve, teremos também um programa de subscrição de desafios criativos manuais, que podem ser enviados pelo correio para grupos de seniores em qualquer parte do país

8. Quais são os projetos para o futuro da A Avó Veio Trabalhar?

O futuro é continuar a trabalhar esta imagem de envelhecimento positivo e feliz, empoderando quem já tem mais de 60, mas também trabalhar as gerações mais novas para que preparem a sua velhice e não tenham medo dela, para que criem futuros maravilhosos para a sua idade maior.